Caros Leitores, a partir de hoje, os convido a acompanhar a história de SEVERINO! Muitos escreveram sobre Severinos, esta é a minha história. Cada quinta feira postarei um pouco da vida deste nordestino, suas andanças, alegrias, tristezas e sonhos...
Vem comigo!
...Severino José do Nascimento é seu nome de batismo. Severino como tantos Severinos de Pernambuco. José, como tantos Josés da Região. Nascimento. Em 24 de Junho nasceu Severino José do Nascimento, assim mesmo, de nome completo como faz jus todo nordestino interiorano. Nasceu, quem sabe em meio a fumaça das fogueiras de São João? Talvez interrompendo um forrozão da gota serena! Pois apaixonado por forró, como ele, somente filho de forrozeiros.
Era um garoto de cor negra, franzino, a pele era o reflexo do ardor do sol e da cana, possuía uma coloração ardida e brilhosa. Desde a tenra idade conhecerá seu campo de concentração, local onde toda sua energia humana era condensada e sugada. No entanto, seu campo de concentração era sua fonte de sobrevivência e isso tornava a vida daquele garoto uma espécie de suplício necessário. Era neste vasto campo que toda sua família, fulano, cicrano, beltrano, colhia o feijão e a farinha.
Bio, como é chamado os Severinos, trabalhava na Cana de açúcar na Companhia de seus parentes. De família doce, e ao mesmo tempo seca, cresceu em meio à vastidão verde e espinhosa. Porem, nunca se acostumara com o amargo daquela cana de açúcar, era de um doce cortante demais para aquele garoto que queria constituir família e vê-la saudável e feliz.
Família, Severino constituiu, pois, pra o início do cumprimento de seu sonho, conheceu uma jovem chamada Ivonete Camilo do Nascimento, também de Moreno e com ela gerou dois filhos, uma “feme” de nome Alessandra Camilo do Nascimento, e um “macho” de nome Alessandro Camilo do Nascimento, que veio a ser, pra manter a tradição da família, um precoce Cortador de cana de açúcar.
Mas, por força do destino, do qual mantém a crença, e por motivos de ordem superior, o casamento se desfez. Severino não se conformou com aquele episódio que destruía parte de seus sonhos, no entanto, difícil era fazer nascer tudo de novo. O fim era o começo de uma nova vida.
“Bateu na cabeça” daquele nordestino, de pegar a estrada e “danar-se pelo mundo”! e ele assim o fez. Aos 36 anos, de malas, ou melhor, de sacola pronta, aquele jovem casado, pai de dois filhos, uma fême e um macho, e triste pela separação daquela que fez parte de um pedacinho de seu sonho, “endoidou o cabeção” e foi pelo mundo afora, sem quê, apenas pra quê. “Eu estava doido na cana de açúcar” - disse ele - mas tão somente com a separação daquela com quem casara, é que decidiu pela inesperada viagem.
Deixava pra trás o campo de concentração cheio de cana de açúcar e um sonho despedaçado. Na sacola, carregava “15 conto certinho”, algumas roupas, pedaços de rapadura e pequenos sacos de farinha, pra tomar café, almoçar e jantar durante a longa viagem de ônibus, com destino a uma “terra prometida” que “manasse leite e mel”... esta terra chamava-se São Paulo.
Em 15 de agosto de 1995 chega a essas terras mais um Nordestino em busca de uma vida nova, pois a que ele possuía lhe parecia velha e cansada demais. Era o dia em que a Seleção Brasileira estava jogando e a Rodoviária do Tietê transmitia o jogo para aqueles que chegavam e para os que partiam para outros destinos.
“Sem parente nem derente”, chegara ao que para ele era um destino diferente, onde pudesse esquecer a dor da separação e o amargo cortante da cana de açúcar.
- Meu Deus do Céu, onde eu fui amarrar meu jegue? – se perguntou,
assustado com gente que “só a mulestra dos cachorro” – era gente demais pra aquele Morenense acostumado com o movimento cansado e de fácil acesso, da região que, geograficamente, deixara pra trás. Ao pisar em terras paulistanas, olhou pra o infinito e não viu infinito... simplesmente tudo aquilo não podia existir.
Talvez tonto, com certeza cansado, juntou suas sacolas velhas e sentou num banco, dividindo espaço com outros cansados e assustados. Foi neste momento que Severino José do Nascimento parou, refletiu e disse para vossa própria pessoa: Pra onde é que eu vou meu Deus do Céu? “
Havia ali, bem pertinho de Severino José do Nascimento, um grupo de cinco homens, cinco mendigos, cinco nordestinos, cinco cansados, cinco sem destinos, cinco negros, cinco seres humanos cheio de sonhos...não eram trinta e cinco, eram cinco. Como que em reunião de articulação, conversavam sobre o que poderiam fazer a partir do momento em que chegaram em terras paulistanas. Severino José do Nascimento, “de olho no padre e um outro olho na missa”, escutou quando um deles falou:
- Vamo morrer no Brás.
O novo habitante, porem, sem habitação, considerou aquela frase um tanto esquisita, no entanto, não tardou em juntar-se àqueles cinco homens, com o objetivo de também “morrer no Brás”.
- Vou morrer no Brás junto com eles. – disse, sem ao menos saber o que era o Brás.
Nos vemos na próxima quinta feira...
Cheiro de terrinha
Gilson Reis
Foto 1- Site Cana muita, seu Moço! -Não é não. Não é não.
Foto 2 - Monumento ao Nordetino - Largo da Condordia - monumentos.art.br
"A rapadura é doce mas não é mole não."
ResponderExcluir[...] a pele era o reflexo do ardor do sol e da cana, possuía uma coloração ardida e brilhosa.[...]
[...] o amargo daquela cana de açúcar, era de um doce cortante demais [...]
Valeu!
Chikito