Na noite do Sarau comemorativo aos nove anos, propomos que cada amante da poesia escrevesse o que fazia aos nove anos de idade. Dessa expressao de memória afetiva, produzi o texto que hoje apresento aos leitores deste Blog. Aproveito para perguntar a você... afinal, o que fazias aos nove anos? Escreva seu comentario!
“Aos nove anos...
Gostava de observar minha mãe a costurar na máquina, ficava na parte de baixo na cama beliche, contemplando, entre o vão e a luz da lampada da maquina, as maos dela segurando o tecido que costurava. Brincava muito com meus primos, de esconde esconde, pulava corda rodava bambole, amareliha e mãe da rua. Que tempo bom! Que saudades! Aos nove anos...
Já sonhava com um mundo mais ampliado, alem daquele que vivia e achava que era pouco. Ocupava o tempo na lida da agricultura familiar, cultivava a terra, tratava os animais, brincava com os meus irmaos e ouvia estórias que os adultos contavam. Tambem lia muitos cordeis.. Estes eram meus deleites.! Aos nove anos, estava acompanhando minha mãe em seu recomeço após a separação de meus pais. Sonhando com a familia ideal, que até hoje busco. Aprendendo a me virar sozinha, e que ate hoje faço. Comendo as sementes da poesia que ate hoje vivo a semear. Aos nove anos...
Brincava de pega pega com meus amigos, jogando queimado. Passava por seríssimas dificuldades financeiras, assistia TV na casa dos vizinhos, cuidava dos afazeres domésticos. Era um menino triste, sozinho com meus amigos solitarios como eu, meus amigos crescidos, um abacateiro e um pe de manga, eu comia seus frutos, os meus... ainda nao eram... Aos nove anos...
Estava envolvido com amarelinha, polícia e ladrão, futebol, ou seja, era somente criança. Tocava sanfona e participava num grupo muito grande de jovens acordeonistas (Uns trinta, quarenta) todo mes, no clube papai noel (Homero Silva, canal 3 na época e no “Paieumam” já com o Vicente Leoporaeu no canal 7, lá no aerorporto de congonhas). Aos nove anos...
Ia à escola vestido de guarda pó e com uma lancheira a tira colo. Ficava ansioso esperando o recreio para saborear meu pão com margarina e tomar uma cruchi. Um dia sai da escola numa atitude de rebeldia. A minha mãe me proibiu de ir à aula por ter me atrasado. Eu disse a ela. Não vou hoje... entao não vou mais! Lembro da escola e da professora Marli, dos amiguinhos e das tardes quando brinca na rua: dono da rua, duro ou mole e outras brincadeiras. Estudava, fazia bale e brincada na rua. Aos nove anos... Eu me lembro da escola e ter que decorar a tabuada. Morria de medo da professora Leonor.
Aos nove anos... quando fui ao sitio da professora Tereza, lá não havia energia eletrica; muitos sapos e um profundo medo de não mais ver minha mãe e meus irmãos. Aos nove anos... Estava numa roda ao luar para ouvir minha bisavó contar as estorias do povo que veio da Africa, inclusive ela, e como vivia no sertão da Bahia. Aos nove anos...
Vivia jogando bola com os meninos e com as minhas amigas. Brincava de barby e meu esporte favorito era futebol. Em um lindo dia de setembro, passava junto de meus imãos, Valter, 3 anos e Alam, 10 anos. Eu usava uma Saia vermelha rodada com desenhos de estrelas do mar, cavalos marinhos e peixinhos. Estavamos no Parque do Ibirapuera tirando fotos, brincando de esconde esconde e meu irmão mais velho se pindurava na árvore. Soltava minha pipa no ar. Aos nove anos...
Vi meu pai partir... lágrimas partidas de olhos maternos. Aprendendo que se pode morrer duas vezes. Faziam dois anos do desencarne da minha mãe, então eu e quatro minhas irmãs e meu unico irmão, esperimentávamos uma experiencia em que cada um tinha que descobrir seu proprio mundo e sua função nele. Adaptação, aceitação, humildade e equilibrio. Tive que aprender muito cedo para não ser sugada pelas teias do ressentimento, incompreensão e medo. Obrigado meu Deus pela oportunidade de aprendizado e amor “incondicional”. Na falta de lembrança, só me lembro de que havia muito amor e esperança... exatamente hoje consegui retornar a este tempo e é muito bom voltar a sentir novamente. Ainda o que tinha de sorriso era uma fuga, sonhando entre musica e imaginação. A realidade já nao me servia de aconchego, a cidade, as pedras, as pessoas, já nao me soavam acolhedoras. Aos nove anos eu não lia, não ria, não brincava, mas a música e o verso de sua melodia me influenciou. Não tenho duvidas, aos nove anos, a poesia já me salvava!
Nove anos... pois é!
Que soe ainda mais forte o canto dos poetas.
Que brilhe ainda mais alto a luz das palavras.
Que o amor se faça mais forte no canto da poesia.
Parabens!!”
Produção coletiva no Sarau de aniversario de 9 anos em 29.10.11
Saudades...
ResponderExcluirMuito rico, tudo muito rico: o sarau, os participantes, os pequenos papéis escritos e este texto traduzindo os sentimentos de cada um nos seus nove anos. Obrigada grande escritor e poeta Gilson Reis.
Aos 9 anos eu jogava Super Mario World no nintendo, comia um hot-dog e tomava uma pitchulinha com apenas 1 real, via desenhos sábado de manhã, cantava as músicas dos Mamonas Assassinas, assistia Fantástico Mundo de Bobby, Castelo Ra-tim-Bum, Doug Funnie, Caverna do Dragão, andava de carrinho de rolimã. Podia brincar na rua até ficar de noite, as crianças não tinham celular e nem sentiam a necessidade de ter, quando ralava o joelho a nossa mãe passava merthiolate e aquilo ardia tanto que você até lacrimejava (quando não chorava). Jogava futebol na rua e descalço com bola de leite, sem contar que as traves eram os chinelos havaianas.
ResponderExcluirEram tantas as travessuras que aprontávamos brincando na rua que é impossível não sentir saudades.
Parabéns ao Coletivo e que vocês possam comemorar muitos aniversários juntos. SUCESSO!
OI GY, quem és?
ResponderExcluirSua postagem me lembrou a bala 7 belo que eu adoraaaava!!! Acho que as vermes que me atormentavam na infancia se aproveitavam de minha gula por este "confeito", como chamam em Camaragibe - Recife.
Cheiro de 7 belo
BRIGADINHO LUIZA ODETE!
ResponderExcluirMais belos saõ os sentimentos...a fonte é o merito mais sublime!
Cheiro de inspiração.