Quando Filipe (meu filho mais velho) estava no ensino Fundamental (hoje ele está com quase 25 anos), na matéria de literatura eles lançavam todo ano um livro de poesias chamado Pedacinhos. Acredito que estes exemplares ficam nas estantes do colégio, das famílias dos autores. Então vou publicar uma poesia de Ana Paula Cairo de 1996, ela estava na 8ª série naquele ano. Com licença Ana Paula.
Sendo um colégio particular localizado no centro de São Paulo, próximo a Estação de trem Luz é possível que esta menina tenha feito esta reflexão observando todos os dias na sua inda e vinda da escola, a realidade das crianças que por ali circulavam.
Eu mesma quando levava Filipe, encontrava todos os dias com uma menina dos seus 7 anos carregando em cada mão galões de água, ela morava próximo à delegacia 77 da Rua Glete que atravessa a Av. São João, não me lembro o nome dela. Onde está, o que faz, esta pequena que tão cedo ajudava a família a coletar água para sua casa em alguma torneira disponível naquela localidade?
Eu vendo chiclete no sinal vermelho
Seu moço compra um pouco de mim
Eu olho o seu carro, eu lavo, eu encero
Ó, tia, compra um doce pra mim
Eu carrego as compras por qualquer dinheiro
Ó, dona, dá um troco pra mim.
Minha mãe foi embora, meu pai não conheço
Na escola não deixam entrar
O meu sobrenome eu sempre esqueço
Com fome é difícil lembrar
Eu vivo, assustado, eu ando ligeiro
Com medo da polícia chegar.
Eu vi na TV o homem dizendo
Que a vida agora vai melhorar
E essa campanha que estão fazendo
Que diz que a fome vai acabar
Mas vem outro dia e tem gente morrendo
Meu Deus, eu nunca quero roubar.
Tá ficando tarde, o sono vem vindo
Parece que o frio não tem fim
Eu vou descansar na praça
Debaixo da ponte ou jardim
Eu rezo pra Deus e peço de joelhos
Dá uma família pra mim.
A beleza pode ser triste e a tristeza pode ser bela. Só a poesia assim o faz.
ResponderExcluirHoje mesmo um Educador de Creche me contou que partiu pra cima de um segurana de supermercado popr que ele pegou pelo pescoço de uma criança de 7 anos que, com fome, tentou levar um pacote de biscoito.
"Minha mãe foi embora, meu pai não conheço
Na escola não deixam entrar"
"Eu rezo pra Deus e peço de joelhos
Dá uma família pra mim."
Rezemos de joelhos, para muitas crianças que ainda esperam esta família.
ExcluirLuiza,
ResponderExcluirQue sensiblidade dessa criança heinn!
Emociona!
Valeu!
Xikito
Realmente Xikito, queira Deus que tenha crescido assim.
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