Hoje é domingo
e eu acordei quotidiana.
Vontade nenhuma de sair da cama.
Do lado de lá da janela,
um sabiá insistente.
Repetitivo,
repetitivo,
repetitivo.
Basta-me como som.
No tapete do quarto,
os mesmos fiapos de sol,
que se parecem com cabelos de anjos.
Estriados pelo chão.
Repetitivos.
Sobre a cômoda,
a santa barroca de olhar perdido
recebe minha oração matinal:
sempre o mesmo pedido.
Repetitivo.
Vejo o retrato oval de meu avô,
na parede de papel listrado.
Colarinho engomado,
olhar altivo.
Meu filho se parece com ele.
Gosto dessa continuidade.
Repetitivo.
Do criado-mudo,
o telefone rasga o silêncio, impositivo.
-Alô, quem fala?
-Desculpe, foi engano.
Repetitivo.
Fecha-se o círculo do meu quotidiano.
Chão de Vento 3ª edição, 2011 (Flora Figueiredo)
Eu sei, hoje é quarta-feira...
Deu vontade de voltar pra cama.
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