sexta-feira, 18 de novembro de 2011

20 de novembro de 1999

O dramaturgo Plínio Marcos morreu ontem, as 16 hs. de falência múltipla de órgãos, aos 64 anos de idade.

Sacanagem. Sacanagem da grossa. Porra, Plínio, por que você foi? Seu grande filho da puta. Você não disse que quando ELA passasse no seu acampamento, você não responderia ao chamado DELA, uma vez que nem mesmo você sabia o terceiro nome com que tua mãe te batizou?

Autor das peças "Dois perdidos numa noite suja" (1966) e "Navalha na carne" (1967), entre outras, era um dos maiores dramaturgos brasileiros.

Escreve aí: dramaturgo e analfabeto. O analfabeto mais premiado do Brasil. Escreve mais, o analfabeto que assume que é analfabeto prá deixar as pessoas putas da vida. E completa assim: era um dos mais duros dos dramaturgos brasileiros, um dos mais pré-conceituados, clandestino de trem e marginal, que jamais se rendeu à prostituição intelectual.

A mulher de Marcos, a jornalista Vera Artaxo, disse que o corpo seria velado e cremado com a roupa que ele havia comprado para ir a Paris, no ano passado.

Sacanagem, Vera. O que o pessoal das quebradas vai comentar depois de ler tudo isso?Olha só a do cara! Posa de marginal, de maldito, de amarra cachorro e até terno comprou para ir a Paris. Bem feito! O pirado, o boca suja, o revoltado, dançou. O último tango em Paris. E sem margarina.

O velório começou as 20 hs. de ontem, no teatro Ségio Cardoso, na Bela Vista (região central). Até as 22 hs. cerca de cem pessoas passaram pelo teatro. À tarde, o governador de São Paulo, Mário Covas, esteve no Incor.

Olha quem veio... o velho Rios. O quê??? Fez as pazes com Getúlio Vargas? Sacanagem, velho fudido. Braço Fixo, cadê as gravatas? E aí, Charuto? Ainda continua achando que malandro é a agulha, que leva no rabo e não perde a linha? Cacilda...rainha sagrada...nunca te falei do meu amor, né? Falo agora: te amo prá caralho!!! Covas... aquele lá é o Mário Covas? Sacanagem, agora me conscientizei que passei desta para melhor...

O corpo do dramaturgo deve ser levado às 11 hs. de hoje ao crematório da Vila Alpina, onde acontece uma cerimônia de despedida.

Cigano velho truqueiro de uma porra, me livra dessa bosta de sonho ruim. Quero sair daqui, desse aperto da merda desse paletó que comprei prá ir prá porra daquele lugar. Puta que o pariu... me ajuda a levantar. Quero pegar minha velha sacola de lona e sair por aí, andando pelas ruas do meu velho bairro boêmio, oferecendo meus livros ruins para os homens pregos presentearem suas mulheres mal fodidas. Vou prometer morrer logo prá valorizar a mercadoria. Olha o livro ruim e barato! Olha o livro! Pode olhar sem medo! Ele não morde, só xinga! Olha o livro ruim e barato! Prá dar para os inimigos no Natal...Nunca mais te convidam prá brincar de amigo secreto! Olha o livro ruim e barato. Pode olhar, prá olhar, não paga. É só hoje. Amanhã...

A cremação será amanhã. Segundo Artaxo, suas cinzas devem ser jogadas no mar de Santos(SP), cidade natal do autor.

18 de novembro de 2011

Difícil escrever sobre Plínio Marcos quando você não conheceu cigano que previu que sua vida seria marcada pelas palavras. Nada melhor neste caso, que se utilizar das próprias palavras escritas por ele:

"Presta atenção, gadjo. Quando a sombra da morte for te envolver, deixa que ela te envolva. Não se desespere, não se defenda, não acorde. Deixa ela chegar e te abraçar inteiro. A sombra não mata. Você é imortal. Ela te envolve e não poder fazer nada com você. A sombra é uma sombra e se dissipa. Você ri dela. Caga e anda. E está livre."

Um comentário:

  1. "...A sombra não mata. Você é imortal. Ela te envolve e não poder fazer nada com você. A sombra é uma sombra e se dissipa. Você ri dela. Caga e anda. E está livre."
    QUERIDA MARLI, CÊ TEM AS OBRAS DO PLINIO MARCOS...ME EMPRESTE.
    Cheiro de imortalidade

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