Nasci no dia da mulher peixe, e peixinho me tornei
Ela, esguia, minha mãe não se tornou, no trato...
Mas outra de fato me engoliu como a Jonas,
E me amamentou como baleia filhote, vomitando-me
Às margens do mar de Tamandaré e das águas turvas do panelas,
Aonde virei anfíbio...
Conheci as terras pernambucanas, dela comi e nela pisei
E me enterrei de vez em quando, procurando criar raízes...
Senti seu sol, enxerguei seu céu e confirmei o azul,
De sua flâmula.
Aí já era planta crescendo, criada e cana-brava, caiana e bruta...
Mas não tinha flor bela...
Aprendi a copiá-las nos panos que enxugavam os pratos,
E não as lágrimas dos prantos, geladas e fartas daquele povo, que era gente sofrida,
Que queria ser agora.. bicho que voa.
Coisa que eu ainda não podia
Por ter flor desenhada no papel e raiz estrangeira, mas raiz.
Suguei a seiva terrena, absorvi a luz e cresci.
Agora tinha tronco, galhos, folhas e frutos doces e amargos...
Mas ninguém os comeu, pois já estava alto demais,
Pra que me alcançassem nos meus desejos de voar, agora.
De tanto sonhar, eles, os sonhos, me arrancaram daquelas terras,
E levado pelo vento, e, não pelas asas que eu ainda não tinha,
Tombei pesadamente.
Nessas terras comuns aos nossos pés, de mim e de vocês.
As asas tão sonhadas de ave ainda não consegui...
Mas tenho as escamas de peixes e sou liso como tal.
Tenho as madeiras de quando planta, tornadas pincéis e penso conseguir iludir poucamente, aos sonhadores e amantes da beleza.
Sei o segredo do barro, das cores nas tintas terrenas e fabris,
Manejo bruxamente as ferramentas ferrosas e prateadas,
Nos veios dos muitos tipos de paus brasis.
São essas as penas do meu veículo voador...
E garanto! Por tantas terras e gentes,
Pelos tantos palcos, telas cines e gráficas,
Por muitos ortis, frutis e desfrutes,
De tanto calor de amor de todos por mim
Tenho um coração aerado.
Suficientemente leve e capaz de planar e ver de cima pra baixo,
O sonho de ser, querer e ter quase tudo na e da vida...
Ela, que cabe direitinho entre o mar e o céu,
De ser eu, Marcelo.
Foi um prazer ter lido eu texto biografico!
ResponderExcluirTantas veias você tem menino!! Vale explorá-las com intensidade e eu espero que o Blog seja um dos instrumentos!
Cheiro