sábado, 18 de junho de 2011

M. Malquebedeche


Nasci no dia da mulher peixe, e peixinho me tornei
Ela, esguia, minha mãe não se tornou, no trato...
Mas outra de fato me engoliu como a  Jonas,
E  me amamentou como baleia filhote, vomitando-me
Às margens do mar de  Tamandaré e das águas turvas do panelas,
Aonde virei anfíbio...

Conheci as terras pernambucanas, dela comi e nela pisei
E me enterrei de vez em quando, procurando criar raízes...
Senti seu sol, enxerguei seu céu e confirmei o azul,
De sua flâmula.

Aí já era planta crescendo, criada e cana-brava, caiana e bruta...
Mas não tinha flor bela...
Aprendi  a copiá-las nos panos que enxugavam os pratos,
E não as lágrimas dos prantos, geladas e fartas daquele povo, que era gente sofrida,
Que queria ser agora.. bicho que voa.
Coisa que eu ainda não podia
Por ter flor desenhada no papel e raiz estrangeira, mas raiz.

Suguei a seiva terrena, absorvi a luz e cresci.
Agora tinha tronco, galhos, folhas e frutos doces e amargos...
Mas ninguém os comeu, pois já estava alto demais,
Pra que me alcançassem nos meus desejos de voar, agora.

De tanto sonhar, eles, os sonhos, me arrancaram daquelas terras,
E levado  pelo vento, e, não pelas asas que eu ainda não tinha,
Tombei pesadamente.
 Nessas terras comuns aos nossos pés, de mim e de vocês.

As asas tão sonhadas de ave ainda não consegui...
Mas tenho as escamas de peixes e sou liso como tal.
Tenho as madeiras de quando planta, tornadas pincéis e penso conseguir iludir poucamente, aos sonhadores e amantes da beleza.

Sei o segredo do barro, das cores nas tintas terrenas e fabris,
Manejo bruxamente as ferramentas ferrosas e prateadas,
Nos veios dos muitos tipos de paus brasis.

São essas as penas do meu veículo voador...
E garanto! Por tantas terras e gentes,
Pelos tantos palcos, telas cines e gráficas,
Por muitos ortis, frutis e desfrutes,
De tanto calor  de amor de todos por mim
Tenho um coração aerado.

Suficientemente leve e capaz de planar e ver de cima pra baixo,
O sonho de ser, querer e ter quase tudo na e da  vida...
Ela, que cabe direitinho entre o mar e o céu,
De ser eu, Marcelo. 

Um comentário:

  1. Foi um prazer ter lido eu texto biografico!
    Tantas veias você tem menino!! Vale explorá-las com intensidade e eu espero que o Blog seja um dos instrumentos!
    Cheiro

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