A Minha Saudade Tem o Mar Aprisionado
A minha saudade tem o mar aprisionado
na sua teia de datas e lugares.
É uma matéria vibrátil e nostálgica
que não consigo tocar sem receio,
porque queima os dedos,
porque fere os lábios,
porque dilacera os olhos.
E não me venham dizer que é inocente,
passiva e benigna porque não posso acreditar.
A minha saudade tem mulheres
agarradas ao pescoço dos que partem,
crianças a brincarem nos passeios,
amantes ocultando-se nas sebes,
soldados execrando guerras.
Pode ser uma casa ou uma rede
das que não prendem pássaros nem peixes,
das que têm malhas largas
para deixar passar o vento e a pressa
das ondas no corpo da areia.
Seria hipócrita se dissesse
que esta saudade não me vem à boca
com o sabor a fogo das coisas incumpridas.
Imagino-a distante e extinta, e contudo
cresce em mim como um distúrbio da paixão.
José Jorge Letria, in "A Metade Iluminada e Outros Poemas"
E é aqui que me rolo e deito
ResponderExcluire me viro do avesso
e cuspo fogo pelas ventas.
ô poema inspirado, moço,
poema sentido, poema doído e doido
poema que queima e apoquenta!
Marli Pereira
Belo!
ResponderExcluirO tempo todo cresce-nos um distúrbio da paixão... seja pelo ou por quem for...
Somos movidos por ela...
Ela nos move neste exato instante!
Chiquin
É, sem dúvida, uma das mais belas poesias sobre saudade, esta palavra-sentimento por excelencia!Marcelo, obrigado por me apresentar a esta obra de arte.
ResponderExcluirEsta poesia me leva a pensar em nós que nos amamos o quanto sentimos saudades quando nos ausentamos.
ResponderExcluirAté breve Marcelo, saudades de ti como também do Júnior.