domingo, 10 de julho de 2011

UNÇÃO

Que me venha o movimento
Alento dos olhos,
Atento ao que almeja.
Que seja rima, verta verso.
Num avesso de mim,
Por mim...
Sem mim...

Que minh’ alma dance e cante
O instante derradeiro do improviso.
Que acalante meus desejos
Em solfejos mágicos e realidades fantásticas.

Que aqui se curve meu orgulho.
Que se eleve a criatura em mim adormecida,
Em brasa e mergulho boca à dentro.
O momento exato de paixão contida,
De escárnio desta carne.

Que venham...
E me valham os deuses...
Untados pela fraqueza de homens embrutecidos.
E assim, neste ínfimo presente, tatue-me em digno signo.

Pince-me a flecha impregnada de humanidade divina
Sina do estranho destino, sopro de vida mundana,
Na inabalável mística do tempo
Este templo dos viveres, mansão das imperfeições.

Ah! Se me julgas desconexo,
Não te aflijas diante de tal mazela.
A fera que me rende, contida em mim já está.
E o que há de divindade, em humanidade se dissipou.

Fraca e mutável como esta carcaça,
Mortal, posto que seja carne.
Vital, já que respira sonhos fugazes.

E, assim,
Antes que eu decida desistir deste dito,
Reverencio-lhe o ato escrito...

Chiquinho Silva
07/07/11 – 22:22

3 comentários:

  1. Sublime!
    A leitura de cada verso em conexão intima com os sentimentos que despetavam e se somavam... ao final, a sensação de que nao faltava mais nada... senao se deliciar.

    Gilson Reis

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  2. Como é maravilho deixar se soltar o que há dentro de si para partilhar aos outros de coração aberto sem censuras sem pudores. Chiquinho você é lindo!

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  3. Chiquinho da Silva,
    se você não participou de concursos culturais com este poema, na próxima vez que eu te encontrar, arranco e como teu cérebro.
    Cheiro antropofágico
    Marli Pereira

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