A João [Benedito] Viana dos Santos
Nas ruas e praças desta cidade
Cantadores e violeiros de repente
Em sua simplicidade
Declamaram em voz corrente.
Um negro alto e valente
Cheio de lorota e fogosidade
Analfabeto e descrente
À sua triste realidade:
Vejo a minha mocidade
Comparo o tempo presente
Que grande desigualdade
Que saudade a gente sente.
Ontem fui fogo ardente
Com o vigor da mocidade
Hoje o velho doente
Não encanta mais a sociedade.
Na sua fragilidade
Dominava o impulso da mente
E com tal sagacidade
Deixava a todos contente.
João Viana – de nascente,
João Benedito, de batisdade
Surgiu como o sol poente
Que se enche de luminosidade.
Um precursor indolente
Passou com a velocidade
E outros a sua historicidade
Trouxeram incansavelmente.
Não posso almejar felicidade
Ah! esse mundo está muito diferente
Amparai-me por bondade
Pois o tempo me é conveniente.
Sigo feliz e contente
Ouvindo da juventude a maldade
Vou rimando e fazendo repente
Enquanto não vem a mortandade.
Pois se há duas ambiguidades
- homem e tempo, seu contingente –
Muito mais há fatalidades
Em se viver eternamente.
Enfim não deixou parente
Apesar da sua longevidade
Nem tão pouco descendente
Que lhe desse continuidade.
As regalias sem irmandade
Delas querer gozar somente.
É a mais pura ingenuidade
Pensa o homem erroneamente.
De mãos vazias vem o decadente
E em toda a sua vaidade
Esquece o homem simplesmente
E vazio parte na igualdade.
Viveu portanto à marginalidade
Do seu tempo tão presente
Ganhou em si notoriedade
Dos cantadores e do repente.
A filosofia e a moralidade
Desta figura vivente
Encerramos na verdade
Que este livro lhe consente.
de Raul Ferreira
O Marcelo que bela poesia!
ResponderExcluirFico pensando que este blog é realmente um momento para nos adentrar um pouco mais pelo universo poético. Ele é o lembrete de que o sarau já está pouco. Não dá pra esperar um mês para trocarmos momentos poéticos. Obrigada por esta postagem.
Marcelo,
ResponderExcluirQuem é este poeta? Perdoe meu desconhecimento.
Antes que me responda vou perguntar ao deus Google...
Os comentários do Laudecir são os melhores, sempre! rsrsrs
ResponderExcluirMarcelo, o verso mais lindo do poema desse Raul (que eu também não conhecia) é esse:
Amparai-me por bondade. ;-D
abs
Conheçam um pouco mais do autor e sua poesia visitando o blog História Esperancense [http://historiaesperancense@gmail.com].
ResponderExcluirJoão Viana dos Santos, conhecido por “João Benedito”, nasceu em Esperança no ano de 1860 e faleceu na cidade de Remígio em 1943. Cantador e repentista, residiu na Rua do Boi (Av. Senador Epitácio) e se apresentava nas feiras livres da região sempre acompanhado de sua viola que trazia dentro de um saco. Era um moreno muito respeitado pela sua habilidade de criar versos e seu jeito irreverente. Mesmo em idade avançada fazia suas rimas. Diziam ainda ter boa memória e “peito fino” e que cantava e glosava abertamente.
O historiador, folclorista e antropólogo Luiz da Câmara Cascudo, cita-o em seu livro e reproduz um desafio que o poeta popular manteve com Antonio Correia Bastos.
O repentista Antônio Ferreira da Cruz chegou a colocar João Benedito em pé de igualdade com Joaquim Sem Fim, considerando-o um dos temíveis cantadores da sua época.
OLÁ! VALEU PELA POSTAGEM.
ResponderExcluirESPERAMOS QUE NOS VISITE SEMPRE COM ESTAS DICAS IMPORTANTES.